"Disparar sobre migrantes quando chegam às praias". Comentários racistas e homofóbicos de membro do partido Reformista do Reino Unido

por RTP
Nigel Farage, líder do partido britânico conservador, Refom UK, durante a campanha eleitoral Chris J. Ratcliffe - Reuters

Durante a campanha eleitoral, um dos colaboradores do partido Reform UK, Andrew Parker proferiu diversos comentários insultuosos dirigidos aos migrantes, sem poupar o primeiro-ministro, Rishi Sunak, descrevendo-o como um "desses idiotas a governar o nosso país" e de "inútil". Também as comunidades homossexuais foram visadas, sendo tratadas como "degeneradas". Esses registos, captados há uma semana, foram agora tornados públicos e fazem parte de um trabalho do Channel 4 News.

No próximo dia 4 de julho os eleitores britânicos vão a votos para escolherem a próxima composição da Câmara dos Comuns.

Com as campanhas eleitorais nas ruas, um jornalista do Channel 4 News, disfarçado, realizou uma investigação secreta integrando-se na campanha do partido britânico Reform UK, fundado por Nigel Farage, em 2018. 

Estas gravações na localidade de Clacton, no condado de Essex, vieram agora revelar comentários racistas, islamofóbicos e homofóbicos de um dos indivíduos associados à campanha do partido Reformista, Andrew Parker.
Insultos atrás de insultos
Durante os dias passados na rua, Andrew Parker dá conselhos ao repórter disfarçado sobre o que dizer na porta.

“A questão da imigração, use a palavra 'ilegal'. Enfatize 'ilegal' especialmente se der de caras com um bando de fdp***".

Sobre o que fazer com as mesquitas, Parker refere que são espaços onde se pratica uma “religião doentia”:" Vou dizer-te uma coisa, se não conheces o islamismo, é o culto mais nojento que existe”. E sugere que, para além de expulsar muçulmanos das mesquitas, estes espaços sejam “transformados em Wetherspoons” (cadeia de bares).

Na mesma linha, o primeiro-ministro, Rishi Sunak, é descrito como um “f*** p***”. “Sempre fui um eleitor conservador”, anuncia Parker, “mas o que me irrita é a m*** que temos. (Sunak) é um inútil”.
"Práticas de tiro ao alvo" para resolver a migração: “F***, just shoot them”
Novos comentários sobre o tema “como conter a migração” deixam clara a opinião de Parker.

Acredita que, caso o Reform UK faça parte de um futuro governo, “os nossos polícias devem passar a ser paramilitares”, para as autoridades “conseguirem manter a rédea curta”.

Dentro da lógica autoritária, Parker sugere que os recrutas do exército deveriam realizar "práticas de tiro ao alvo" disparando contra os pequenos barcos que trazem imigrantes ilegais para o Reino Unido.

“Levem os jovens recrutas para lá, sim, com armas na praia do c***, e façam prática de tiro. F*** , disparem apenas. Foi isso que os gregos fizeram... Você sabia disso? Os gregos dispararam e muito”.

“E ainda temos um desses canalhas a comandar o nosso país”, referindo-se a Sunak.


Em outro momento da campanha de rua, Parker dirige-se a um paramédico.

“Faça-nos um favor. Você é um paramédico. Se algum desses malditos entrar na sua ambulância, não coloque oxigênio no desgraçado. Use outra coisa”, insiste.
Bandeira arco-íris do movimento “Pride”
Nesta ações de rua também se encontram George Jones, um veterano do UKIP e do Partido Brexit, que agora organiza eventos para a campanha de Farage, Rob Bates, um ativista sénior da Reforma no Reino Unido e Roger Gravett, ativista regional do Reform UK para Londres e candidato ao Tottenham.

Quando um carro da polícia passa perto do local da campanha e leva uma bandeira colorida do movimento “Pride” (Orgulho Gay), Jones não se conteve: “Vocês vêm aquela maldita bandeira degenerada no capô do carro? E o que o antigo projeto de lei está a fazer para promover esta porcaria? Eles deveriam estar a prender idiotas e não a promover essa m***”.

Mais tarde, ao delinear a visão para um futuro governo conservador, ouve-se Gravett dizer: “Quando formarmos governo em 2029, certamente poderemos mudar muitas coisas”.
Desculpas
Dias depois, ao ser confrontado pelo Channel 4, Parker veio pedir desculpas ao partido por ter opinado de forma tão boçal.

Alegou que "nem Nigel Farage, pessoalmente, nem o Partido Reformista estão cientes de minhas opiniões pessoais sobre imigração".

“Nunca discuti imigração com Nigel Farage ou com o Partido Reformista e quaisquer comentários feitos por mim durante essas gravações são as minhas opiniões pessoais sobre esses assuntos”, acrescentou.

“Gostaria, portanto, de me desculpar profundamente com Nigel Farage e com o Partido Reformista se minhas opiniões pessoais os prejudicaram e os desacreditaram, pois essa não era minha intenção”, rematou Parker.
Reação de Farage
O líder do Reform UK, Nigel Farage já reagiu, afirmando que o partido não era "perfeito". 

Desvalorizou os comentários de Parker: "Tivemos um ou dois candidatos que disseram coisas que não deveriam ter dito". Na maioria dos casos, eles estão apenas a dar opiniões pessoais”.

Sublinhou que esses indivíduos “não fazem parte do discurso político dominante de Oxbridge, nós entendemos isso. Em alguns casos, uma ou duas pessoas já nos dececionaram e nós deixámo-las sair”.

Citado na BBC, Farage argumentou: "A realidade é que somos um movimento de rápido crescimento, e quando temos voluntários não remunerados, algumas pessoas se comportam de forma inapropriada. E aí elas são mandádas embora".


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